Decidi escrever sobre a saúde mental dos estudantes de medicina brasileiros no Paraguai por causa de minha experiência em atendimento clínico a essa população, desde 2018. Quero, com este texto, explicitar o que observo em termos de condições educacionais e também mentais destes pacientes, considerando também o contexto social regional da tríplice fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina.
Moro em Foz do Iguaçu/PR desde 2018. Desde então, sempre aparecem estudantes brasileiros de medicina no Paraguai para serem atendidos por mim. Quero trazer aqui contextos mais genéricos, considerando que cada consciência é única e, portanto, possui particularidades dentro do tratamento psicológico. No entanto, é visível alguns pontos em comum na saúde mental dos estudantes de medicina brasileiros no Paraguai, tais como:
Diferenças culturais que dificultam a adaptação dos estudantes brasileiros de medicina no Paraguai;
Diferenças linguísticas cujas exigências são grandes na execução de trabalhos a serem entregues;
O ano letivo é diferente de como funciona no Brasil, afetando o período de recesso de final de ano para aqueles que querem rever a família nesta época do ano;
Existem burocracias relevantes para processos de transferência para faculdades no Brasil;
Não é simples passar no Revalida, após concluir os estudos no Paraguai.
Isso se deve, principalmente pelo fato de que o sistema de saúde no Paraguai é diferente do sistema de saúde no Brasil, dificultando conceitos divergentes entre países;
Distância da família e conhecidos.
Geralmente, estudantes brasileiros buscam o Paraguai para estudar pelo fato de ser "mais fácil" e barato em comparação com as universidades brasileiras particulares. Muitos, se sentem frustrados com esta escolha, justamente pela alta cobrança que se coloca nos estudantes de Ensino Médio sobre passar em universidade pública (estadual ou federal), o que é uma grande balela porque quem faz a faculdade, de fato, é o aluno. É o aluno que fará a diferença no final enquanto profissional.
Muitos estudantes de medicina brasileiros no Paraguai acabam se mudando para o Paraguai e passando por situações complicadas por não conhecerem a cultura da população de Ciudad del Este (cidade do Paraguai onde as faculdades de medicina se concentram, e que faz fronteira com o Brasil, mais precisamente a cidade de Foz do Iguaçu/PR). Além do vocabulário um tanto diferente, há várias pessoas tentando ganhar dinheiro em cima dos estrangeiros brasileiros, e é aí onde os estudantes de medicina brasileiros no Paraguai acabam ficando reféns, no começo (ou até se adaptarem ao sistema).
Há também alguns estudantes de medicina brasileiros no Paraguai que vem para a fronteira sem muitos recursos e, muitos menos, auxílio familiar, o que faz com que se deprimam por não alcançarem as expectativas criadas. Isso vale também para aqueles que contam com a ajuda financeira familiar justamente por serem muito cobrados para darem resultado, finalizar logo a faculdade, dentre outras projeções paternas. Muitas vezes, o despreparo para tal situação é geral (de pais e filhos). Mas, na maior parte das vezes, há fantasias por parte dos estudantes de medicina brasileiros no Paraguai que se cobram por darem resultados por se sentirem desconfortáveis dependendo dos pais.
Claro que não podemos nunca generalizar quando se trata de ser humano, mas, geralmente, os estudantes de medicina brasileiros no Paraguai não conseguem auxiliar no pagamento dos estudos quando dependem dos pais, justamente pelo período integral da universidade. Muitos estudantes de medicina brasileiros no Paraguai acabam trabalhando como motoristas de aplicativo, considerando o mercado de turismo na região ser o foco das economias locais. Porém, você já imagina o quanto de estresse esse estudante de medicina brasileiro no Paraguai não acumula em decorrência do excesso de entregas junto ao trabalho extenuante dos aplicativos que pagam tão pouco ao motorista. Atendi muitos estudantes em processo de burnout, quase beirando a depressão em decorrência destas cobranças, autocobranças e também correria para sobreviver.
Existem os estudantes de medicina brasileiros no Paraguai mais resilientes que acabam conseguindo buscar formas alternativas de fazer renda extra a fim de sobreviver aos gastos e alguns excessos, que muitos acabam tendo em termos financeiros até decorrentes da compensação do estresse.
O lado positivo de ser estudante de medicina brasileiro no Paraguai é o amadurecimento emocional e os desafios pela busca pela independência que podem fazê-lo crescer, desde que aproveite as oportunidades. Nem todos possuem maturidade para lidar com tudo isso ao mesmo tempo, e é aí que eu entro enquanto profissional da saúde mental que irá auxiliá-los a organizar suas emoções, rotina e planejamento de vida.
O que encontro no meu consultório são estudantes de medicina brasileiros no Paraguai em um alto nível de estresse, muitas vezes depressivos, em um alto nível de exaustão (burnout), necessitando, na maioria das vezes, de medicação psiquiátrica para lidar com essas cobranças.
Claro que existem exceções, mas estas situações decorrem daqueles que tiveram um preparo mais maduro para essa mudança, e buscam ajuda psicológica por outros motivos, também pertinentes de serem trabalhados.
Independente se são estudantes de medicina brasileiros no Paraguai que passaram por diversos perrengues no Brasil por não entrarem em universidades nacionais ou estudantes de medicina brasileiros no Paraguai que já foram direto estudar fora, cada um possui seus desafios necessitando de suporte psicológico antes, durante e/ou depois desse longo processo de estudos. Isso também independe da idade desse estudante de medicina brasileiro no Paraguai. E se for um recém-saído do Ensino Médio, terá ainda o agravante da imaturidade biológica atuando junto com tudo isso.
Caso você precise de ajuda psicológica, entre em contato comigo:
Psicóloga Michelly A. Ribeiro
CRP-08/27324
(45)99131-3177
Yorumlar