Você já percebeu o quanto perdemos tempo com coisas superficiais? É claro que o que é superficial para mim é diferente do que é para você. Porém, tenho a sensação de que o mundo contemporâneo adoeceu as pessoas. E esse paradoxo do virtual versus real nos acompanha há, pelo menos, 1 década.
Sou muito observadora e me considero uma pessoa altamente sensível, para além da psicologia, e fico vendo que as redes sociais fazem as pessoas passarem mais tempo com seus dedos nas telas do que em pessoas, por assim dizer. Estão juntas presencialmente, porém desconectadas, enquanto virtualmente estão super em evidência.
Vanessa Lopes
O caso da Vanessa Lopes (BBB 24) nesta semana foi um exemplo disso. Não sei dizer o quanto de psicopatologia existe nesse processo, porém, isso não é tão importante quando se trata do adoecimento geral pela baixa interação social. Ela só tem 22 anos e milhões de seguidores. Vive muito cedo no malabarismo da vida exposta com mil fantasias marcadas pelos modismos e que fazem com que o virtual se sobressaia ao real, principalmente pela dificuldade de ser quem ela é de fato.
Necessidade de atenção e baixa resiliência
A grande verdade é que a tecnologia (internet, mais especificamente) apenas evidencia o que sempre existiu, mas que não ficava tão escancarado: a necessidade de atenção, de sermos vistos, desejados, queridos ou amados. Acontece que essa hiperexposição gera competitividade e muita frustração (ou baixa tolerância à frustração, considerando a facilidade com que se consegue coisas - ou a falsa ideia de...)
Mas, o ponto é que estamos cada vez mais distantes enquanto humanos nesse mundo virtual versus real, nos deixando levar pelo assunto do momento, por tudo o que é fácil, estamos vendo algumas novas gerações com dificuldade de lidar com desafios ou obstáculos necessários para o desenvolvimento pessoal.
Sociedade do espetáculo
Estamos assistindo ao espetáculo da vida diante de telas, conversando com robôs e desenvolvendo pouco nossa empatia. É a sociedade do espetáculo, como bem traduziu Marilena Chauí, em que você assiste e não vive. É a sociedade virtual versus real em que a vida só acontece na teoria. Mas, começo a perceber que é um espetáculo dolorido de se ver. As pessoas têm sofrido silenciosas, reprimidas por trás das telas. Mostram o que acham que é bonito ou aceitável, deixando de expor quem realmente são.
O resultado disso? Depressão, ansiedade, infelicidade...e a incessante busca por caber em algo que não é para si, mas é dito como ideal, resultando na sensação de insuficiência e gerando cada vez mais síndrome de burnout.
Patologias da modernidade
Não podemos nos esquecer das novas patologias da modernidade, como é o caso da nomofobia (o vício no celular, tecnologia e em se manter informado o tempo todo). Será que não foi o que ocorreu um pouco, em partes com a Vanessa, ao se ver enclausurada em um reality show? Aliás, não podemos nos esquecer das comorbidades psiquiátricas: cada nova psicopatologia potencializa outras antigas, como é o caso da esquizofrenia, como foi amplamente abordada na mídia se referindo a ela. Mas, não podemos diagnosticá-la, apenas opinar (algo muito comum hoje em dia: todos opinam sobre tudo o tempo todo, mesmo sem muito conhecimento a respeito).
É claro que tem o lado bom disso: é o paradoxo da tecnologia, que aproxima ao mesmo tempo que afasta. Nos traz informações as quais jamais acessaríamos em tempos remotos em que trocávamos cartas apenas, e ao mesmo tempo nos adoece com esses mesmos excessos. Melhora a saúde, aprimora a ciência, cura doenças, mas também favorece os baixos estímulos neuronais com o simples apertar (ou deslizar) dos dedos ao escrever, também estimula o baixo índice de leitura (com alta preguiça mental para ler) e a dispersão, além dos crassos erros de português ou da língua nativa.
O cérebro trabalha cada vez menos. Fico feliz com algumas mães dessa nova geração que vejo (também na internet) estimulando suas crianças a serem ativas e não ficarem diante das telas, favorecendo a avançada alfabetização, falando de maneira precoce, bem como ajudando no fortalecimento da resiliência, a maior prejudicada nos tempos atuais, por tudo o que já disse antes.
Esperança
Meu desejo é que o tempo de tela seja cada vez menor, e que as pessoas voltem a olhar nos olhos, sem medo. Que elas possam se tocar com carinho, que a ira deixe de existir motivada pelo egoísmo e individualismo / competitividade estimulado pelas redes sociais e passe a ser cada vez mais compartilhado o amor, resgatando as interações pessoalmente, o viver o momento presente com toda intensidade que ele merece.
Fico reflexiva sobre isso porque: será que se amanhã todos morressem por alguma fatalidade, estariam satisfeitos com a vida que levaram? Se sentirão felizes por terem feito projetos ou algo escrito para ficar para a posteridade? Pensam sobre como serão lembrados? Foram realmente felizes? Ou simplesmente sobreviveram? Só mataram o tempo?
Fico triste pela solidão que pode pairar depois do fim. Mas, deixo aqui essa reflexão para o AGORA: seja FELIZ HOJE! Viva a verdade e não a fantasia.
Michelly Ribeiro
21 de janeiro de 2024
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